Olhei no mapa e decidi encarar o percurso a pé até o local, do outro lado da cidade. Sabia que era longe, mas a caminhada permite sentir o clima das ruas. Depois fui ver que era uns 3 km do centro até o endereço – exceto pelo fato de que errei o caminho e tive que ir e voltar umas quadras a mais. O prêmio? Passar por esse parque, ainda coberto pela neve que caíra no final de semana.
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Parco na via Pasubio, próximo a um dos apartamentos que visitei. |
O apartamento era muito agradável e os moradores, idem. Continuo impressionada com a gentileza, acessibilidade e disponibilidade das pessoas por aqui, por mais que tenham dito que isso é porque sou mulher, branca, estudante e brasileira. (Parece que não andam tão cordiais com jovens imigrantes do sexo masculino com potencial para disputar os parcos empregos. A conferir.)
Na volta, peguei meu primeiro ônibus em Bologna, o número 19. Mesmo com seus 500 mil habitantes, ruas estreitas e prédios de trocentos anos (que poderiam ser prejudicados com a vibração), todos os autobus são enormes e articulados. Não tem cobrador: você pode validar um cartão que dá direito a várias viagens ou validar um bilhete (comprado antecipadamente em uma tabaccheria) que permite fazer viagens no período de 1 hora. Pode, ainda, comprar sua passagem dentro do coletivo, depositando 1,50 euro numa vending machine. O bilhete antecipado custa 1,20 euro. Quanto aos cartões, há várias modalidades. Não há ninguém controlando se você pagou ou não, se validou ou não. Porém, tá rolando uma campanha educativa: "io vado e non evado".
Chegando ao miolo do centro histórico, próximo ao cruzamento em que a via San Felice se torna via Ugo Bassi, o ônibus parou. Pensamos que se tratava do sinal vermelho. Depois de um tempo fora do normal, o motorista abre a porta para que a gente desça. Há um Citroën parado exatamente no meio da rua, que é acesso importante para o centro e para o outro lado da cidade. A polícia está por ali, mas parece tranquila. Não é um acidente.
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Não adianta fuçar aí, gente. Pra consertar esse carro, só com mestrado em engenharia eletrônica. |
Pergunto ao motorista do ônibus se o carro está estragado, e ele diz que sim. "E por que não empurram?" – o verbo "empurrar" foi na base do gesto, porque não sei como se diz em italiano. Aí ele me explica que o carro está com o freio de mão puxado, e que esse freio é eletrônico e pifou. Não tem como tirar o carro dali, a não ser com um guindaste – palavras dele, se divertindo com a história. Pra terminar, me diz que posso pegar outro ônibus da mesma linha uns 300 metros à frente (nesse momento aprendo que o bilhete vale por 1 hora).
Enquanto sigo para a próxima fermata (ponto de ônibus) fico pensando: a cidade tem centenas de anos, já passou por um monte de guerras e disputas de poder e, até hoje, não conseguiram pará-la. Estava faltando um moderníssimo Citroën automático com o freio de mão puxado.