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20.5.11

Sobre a cerveja das Tchecas - carta aberta aos alunos de Comunicação da Facinter

Olá pessoal

Queria retomar um assunto que surgiu ontem, durante a palestra sobre o livro "Sociedade excitada", respondendo a pergunta feita por um dos alunos, sobre minha opinião quanto à questão ética do episódio (vejam aqui uma excelente análise).

O que chamamos de web 2.0 permite que qualquer um se torne emissor (pode ter seu blog, gravar seu vídeo e postar no YouTube, fazer uma galeria de fotos no Flickr etc.). Lembram que falamos ontem sobre a pressão por emitir, por estar "aí"? Quando todos podem produzir conteúdo, diferenciar o que é produção de uma pessoa ou de uma empresa fica mais complicado. Criar conteúdos com cara de "vida real" tem sido uma estratégia frequente na publicidade. Algumas iniciativas são bem sucedidas. Outras, resvalam para o mau gosto e até a falta de respeito.

A cerveja Proibida usou essa estratégia. No entanto, ela continuaria no ambiente das redes sociais, não fosse o problema causado pela "pressão das notícias", pela necessidade de estar sempre causando sensação, que comentamos ontem. O programa de TV Pânico foi atrás das meninas para tornar a sua atração mais "sensacional". Mais uma vez, é a TV, a mídia de massa, buscando conteúdo naquilo que é produzido nas redes sociais, pelos indivíduos comuns. O problema, neste caso, é que ela avaliou errado: veiculou um conteúdo que foi produzido com intenções comerciais.

O artigo no link logo acima fala que a tal cerveja, quando realmente for lançada, pode ter problemas com a mídia, devido a esse episódio. A imprensa não gosta de ser enganada. Por outro lado, a imprensa anda se confundindo demais com entretenimento, o que a deixa mais vulnerável a esse tipo de equívoco. Cadê a investigação, a busca, a apuração das notícias? O Pânico só foi atrás dessas meninas porque é um programa que resvala para o mau gosto. Mulheres seminuas, com apelo sensual, foi uma isca excelente para eles. Fica a lição.

Do ponto de vista do receptor, do cidadão comum, acredito que esse tipo de situação deve servir como lição. Precisamos ter uma visão mais crítica sobre os conteúdos da mídia, selecionar melhor o que ler, o que assistir, em que acreditar. Recomendo a vocês a leitura de "O culto do amador", que fala sobre a questão da pouca qualidade do conteúdo produzido pelos usuários (apesar de eu não concordar com os argumentos do autor). Rende uma boa discussão.

Se eu acho antiético? A resposta é difícil. Tendo a acreditar que não. Qualquer um pode produzir conteúdo e postar na internet. Como lidar com esse fato irreversível? Aprendendo a ter discernimento e usando nosso poder de consumidores – de produtos e de mídias, boicotando aqueles que não nos respeitam.

E vocês, o que acham?

2 comentários:

Anônimo disse...

Bom dia Adri!
Acho que você tocou num ponto fundamental: apuração!
As mídias tradicionais, no caso a TV, andam tão sedentas por audiência, motivada pela concorrência com as mídias digitais, que qualquer movimento é notícia.
Estão tendo cada vez menos rigor no que exibir e, a TV, muitas vezes tem se tornado um espelho da própria internet.
Concordo que, com esse case, fica a lição para as mídias tradicionais serem mais cautelosas com suas pautas vindas do online.
Abraços!
Paulo Negri

Adriana Baggio disse...

Paulo, concordo com você.

A questão da apuração é fundamental. Me parece que hoje não há mais tempo para isso. Se uma emissora esperar ter certeza para veicular, outra vai lá e veicula sem ter certeza mesmo.

A responsabilidade ficaria nas mãos do público, que deveria valorizar os veículos que agem corretamente. Ah, se isso fosse possível...

Obrigada por contribuir para o debate!