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18.2.13

Gaiatices de Bologna

Uma das muitas plaquinhas gaiatas nas paredes da Osteria Broccaindosso: "Algumas mulheres amam tanto o próprio marido que, para não gastá-lo, usam o marido das amigas!".

Primeira vez na Europa, primeira na Itália, primeiro dia dos mais ou menos 150 que passarei em Bologna para o doutorado sanduíche. Aterrisso com céu lindo, uns 8º de temperatura. Claro que me lembrou Curitiba em julho. Cheguei no hotel mais ou menos na hora do almoço, morta de cansaço. Dormi a tarde toda, acordei no começo da noite.

Depois de um banho maravilhoso, coloco segunda pele, gola alta fininha, gola alta de malha grossa preta, meia-calça, calça cor de areia de veludo fake, casaco de lã C&A velho-pra-caralho cor-de-camelo e manta de lã acrílica preta, e assim estou pronta para desbravar Bologna.

Peço ao senhorzinho da recepção, em portuliano fluente, uma sugestão de lugar bom&bonito&barato pra jantar. Ele me chama de signorina (já adorei o vovô!), faz um mapinha e lá sigo eu, pela agora escura rua do hotel, a estreitinha Strada Maggiore (herança medieval da cidade).

Friozão delicioso. Diz o Weather Channel que está 1º. Poucas pessoas na rua, mas todas jovens. As calçadas ficam sob enormes marquises com arcos, sobre os quais estão prédios antigos de portas enormes (tipo porta de castelo) que abrigam de tudo: consultórios, academia de yoga, apartamentos. Vendinhas e quitanda ainda abertas, mesmo às 10 da noite.

Viro na stradina da Osteria Broccaindosso. Na rua, tudo silencioso e vazio. Mas quando entro no local, é outro mundo: pequena e aconchegante, a osteria está cheia de gente. A maior parte das mesas está ocupada por grupos de pessoas. Parecem ser habitués do local, pois conversam com o dono.

Conseguem uma mesa pra mim na parte de trás. Lá também há grupos, mas de gente mais jovem, alguns falando italiano, outros, inglês. Não parecem turistas. Devem ter relação com a universidade (a faculdade de Ciências Políticas é bem perto dali).

Osteria é um restaurante simples e muito familiar, mais simples ainda que uma trattoria. Por isso, quando peço o menu à garçonete (filha do dono?) faz sentido ela dizer que não há menu: é só “vocale”. Recita uma lista de antipasti e depois de primi piatti. Entendo o suficiente pra ter uma noção do que são os pratos e escolho uma massa feita à base de ovos, parmiggiano e pão amassado, chamada passatelli, acomapanhada de pedaços de coração de alcachofra. Também me dou ao luxo de uma taça de vinho tinto da casa.

O passatelli chega rápido, servido num prato fundo (como aqueles de sopa) e relativamente pequeno. Estou com uma fome razoável e penso se não vai ser pouco (afinal, uma refeição italiana completa tem entrada, primeiro prato, segundo prato, um terceiro, além de queijos e sobremesa).

A massa, como se fosse um espaguete bem grosso e mais curto (não é de enrolar com o garfo), é divina. Olho maior que a barriga: o prato é mais do que suficiente. Como tudo, me esbaldo, mas não conseguiria comer mais.

O dono vem limpar a mesa e pergunta se eu quero o secondo piatto. "Non, grazie!" E sobremesa? Também recuso e, lembrando de uma das aulas de italiano, peço: "vorrei un caffè".

[A parte da sobremesa vale um comentário: a mesa ao lado pediu dolci. Ouvi a garçonete recitando as opções. De repente, chegam várias travessas: uma mousse de chocolate, uma torta, uns bolinhos que parecem sonhos redondinhos, uma calda de chocolate. E as pessoas da mesa vão se servindo dessas travessas, à vontade! Não sei qual é o esquema, se paga por cabeça. Mas fiquei impressionada! P.S.: veja as resenhas no Trip Advisor, no link sobre a Osteria logo acima.]

Meu espresso chega, curto do jeito que gosto (não pedi que fosse assim, pelo jeito é default) e com um sachê de açúcar. Nada dessa frescura de adoçante (nas refeições do voo da Alitalia também não tinha adoçante). Logo em seguida, o dono coloca um prato na minha frente com um pedaço de torta. Vai ver ele não se conformava que eu não havia pedido dolci! Apesar da caixa de bombons (presente de despedida de uma tia!) que me esperava no quarto do hotel, é evidente que não recusei. A torta era leve, de sabor suave. Pensei ter sentido gostinho de laranja. Pergunto: “arancia”? “Non, amarene.” Estranho uma torta de cereja que é amarela, mas enfim... Peço mais um café pra acompanhar a torta. Depois, ainda lembrando das aulas de italiano, toda orgulhosa, solto um “il conto, per favore”.

Confesso que rolava um certo receio sobre o valor do conto. Como não tinha menu, também não sabia os preços. A placa do lado de fora dizia que os pratos custavam entre 12 e 20 euros. Torci para o meu estar entre os mais baratos. Bom, eu devo estar com muita cara de cachorro caído de mudança, porque o prato, o vinho, dois cafés e a sobremesa (que tinha sido cortesia, ok), saíram por 13 euros.

Parece que a opinião do italiano que veio ao meu lado no voo do Rio para Roma tem sua razão de ser: disse ele que Bologna é a cidade italiana onde melhor se come e onde as pessoas são mais simpáticas.

Update em 22/2/2013: hoje passei em frente à Osteria e fotografei a entrada.



4 comentários:

Dna. Bona disse...

Eeeeeeee,sei benvenuta!!!!! Auguri sul tu suggiorno!!! Bacci!

Adriana Baggio disse...

Grazie, D. Bona! besos

adriana disse...

Que ótimo amiga, pelo jeito você está se virando super bem em terras italianas. É, está no sangue! Bjs e se cuida por aí!!

Tatá disse...

Que bela chegada hein?! Descrevendo assim dá pra ter uma boa ideia de como foi isso tudo. Sucesso aí! Beijos